quarta-feira, 21 de maio de 2008

menina sem vento

-- Mamãe, estou com falta de ar! – a menina correu com as saias amarelas que balançavam naquilo que ela mesma dizia que sentia falta. A mãe, aflita como sempre ficava com qualquer problema, correu de volta em direção às saias amarelas da filha.

-- Falta de ar, filhinha? Como assim falta de ar? – Como assim falta de ar. Como assim falta de ar!? Falta de ar, oras. Uma menina de oito anos jamais saberia responder com precisão um “como” desses, mesmo que essa fosse uma menina que, como todas as outras meninas, gastasse seu tempo pensando a respeito das coisas.

-- Falta de ar, mamãe! Falta de ar e pronto. – Falta de ar e pronto. E ia ela, na mais pura incompreensão daquele período quase-fim da infância, dando batidinhas no peito, ficando ainda mais branquinha do que era, com os olhos menorzinhos ainda do que eram. A mãe aflita assoprava e tratava logo de preencher todo o ar da sala da casa com perguntas recheadas de “como”. Como assim? Como no peito? Como vamos resolver isso, meu Deus do céu? E agora? Melhorou um pouco? Como está?

A menina nada respondia e continuava com as batidinhas no peito. Até que.

-- Passou.

-- Passou? “Como” passou?

-- Passou, mamãe. Passou e pronto.

A mãe se aborrecia muito com a rapidez e a praticidade da menina responder as coisas. Para ela todas as respostas deveriam ser mais profundas que um “pronto” e uma mocinha de oito anos não podia continuar sentindo faltas dessa espécie – ainda mais que essa não era a primeira vez. A mãe, tomando um pouco de ar pra ficar mais calma, atacou.

- Filha, preste atenção. Preste muita atenção: você precisa me explicar melhor essas faltas que você anda tendo... Isso não pode acontecer o tempo todo, não pode. Falta de ar? Nessa idade?

-- Tá bom mamãe.

E foi brincar, já mais amarelinha, da cor das saias.