segunda-feira, 29 de março de 2010

repito

porque as palavras podem mudar de direção

(texto escrito em 2009 no meu outro blog com o Luiz Rocha: www.cinemamor.blogspot.com)


num fluxo contínuo eu quero conseguir dizer
isso tudo
isso mesmo
isso nada
isso tudo que por ser tudo não faz
sentido junto
sentido justo
sentido mata
eu não entendo as palavras
eu não entendo nada
eu não entendo a conduta
eu não entendo as coordenadas


porque foi você quem telefonou de madrugada
palavras soltas
palavras claras
pra dizer um pouco de muito
e de um pouco de falta
numa saudade única
numa saudade errada
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e nessa vontade mútua
do improvável
existe uma distância
quem sabe uma cilada
e é calando que talvez
possamos ser juntos
o impensável.

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domingo, 28 de março de 2010

sem lugar

Perdi alguma coisa que me era essencial. Alguma coisa preciosa, alguma coisa viva, algum estado ou lugar de onde é possível olhar e reconhecer.
Perdi alguma coisa que angariava grandes certezas. Perdi solos conquistados com prontidão. Perdi afirmações concretas. Perdi pessoas, amizades garantidas, promessas de amores.
Perdi o conforto, perdi a total pureza, perdi o sorriso infantil. Não se trata somente de crescer. Se trata de estar.
São muitos os lugares, muitas as pessoas e de toda a perda resta uma solidão quase incompreendida. É como se contar pro outro não adiantasse. É como se o que perco estivesse ao nível da experiência. Experiência essa que a cada dia atravessa o meu corpo, minhas pernas, meus olhos, minha boca, minha palavra. Vivência direta na pele. Não narrável.
Estou com os pés fincados em algum sítio incerto que aponta novos caminhos (incertos). Na mão direita há uma mala, na mão esquerda, uma gaiola. Elevo o pescoço em direção ao céu, peço ajuda aos antepassados.
Perdi alguma coisa que me era essencial. No peito restam qualidades quase opostas que coexistem juntas na direção dos passos. Medo coragem medo coragem medo coragem medo coragem medo coragem - em pêndulo.
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Há uma travessia a ser percorrida pelas minhas duas pernas, e somente por elas.

quinta-feira, 25 de março de 2010

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"Que avenida tão limpa é essa que vai ser erguida sobre um chão de sangue?"

segunda-feira, 22 de março de 2010

feliz novo ano

novas primaveras

Lavar as mãos pro que não serve mais
Tirar a poeira
dos sapatos
das vertigens
das lamúrias

dar valor aos esquecimentos

Varrer a casa.


ao fim do inferno astral e ao início da nova era. (re) começo.

terça-feira, 2 de março de 2010

mapa

Tem uma estrada que se chama trabalho. É preciso seguir o caminho sozinho pelo seu corpo. Alguns farão companhia, mas o trajeto é feito por dois pés (de quem caminha sozinho). Há possibilidade de recompensa. Não há certeza. Não há garantia.

Tem uma estrada que se chama família. Dessa estrada não se sai e não se volta. Todos os caminhos levam até uma estrada espiralar. Em cada passo fica um pouco do essencial.

Tem uma estrada que se chama saudade. Não há mistério de trajeto, sabe-se aonde começa e aonde termina. Só não se sabe como atravessá-la.

Tem uma estrada que se chama amor. Por ela não se passa nem se fica. O contorno é frágil. A travessia é quase sempre inventada.

"Todos os caminhos
Nenhum caminho
Todos os caminhos
Nenhum caminho

Nenhum caminho - a maldição dos poetas."
(Manoel de Barros)