quarta-feira, 15 de abril de 2015

como um soco no estômago

me desculpe por gostar tanto de você. é isso mesmo: me desculpe. me desculpe pela delicadeza, pelas palavras nobres, por encher seus dias de coloridos e rajados e amontoados de papel picado. me desculpe por inspirar suas travessias, ainda que eu tenha as atrapalhado um pouco. me desculpe por ter feito a paixão virar desilusão e tudo aquilo que quisemos e tentamos e sentimos ter virado um pouco mais do que uma poeira espessa no canto do fundo da sala. me desculpe pelos batons vermelhos, pelos beijos vermelhos, pela presença vermelha que sempre te trouxe muito mais vida do que propriamente alegria. me desculpe pela minha alegria, pela minha aposta, pelo desejo do hoje e sempre e nunca. me desculpe por sentir, por sentir muito, por sentir pouco, por ter ódio, por ter fulgor. me desculpe pela dor da perda que eu não te causei. me desculpe pelo silêncio cinza que te cobre os dias enquanto eu mesmo que triste consigo navegar em alto mar. me desculpe por navegar em alto mar enquanto você avista a gente somente em superfície. me desculpe pela ingenuidade, pela doçura, pelas palavras não-ditas, pela ausência do grito. me desculpe por não ter te mandado tomar no cu. me desculpe por ter te compreendido, por ter te respeitado, por ter desafiado o mais profundo desafio que eu já pude viver até hoje, por ter aceitado a dinâmica do tempo e também os dias tristes e também os dias loucos e também os dias vazios e também a maior solidão do mundo. me desculpe por ter apoiado o seu processo, o seu momento, o seu mundo e deixado o meu processo, o meu momento, o meu mundo um pouco muito de lado pra que a gente não se perdesse. me desculpe por ter aguentado, por ter doado, por ter doído, por ter sido. me desculpe por não conseguir mais fazer com que minhas palavras sejam leves, embora eu tenha apostado sempre na gentileza, ainda que doa, ainda que rasgue, ainda que não seja mais do meu feitio. me desculpe por ter acreditado em você, por ter acreditado em nós, por ter chorado, por ter chorado, por ter chorado, por ter chorado, por ter chorado e quase inundado nós dois em lágrimas, em oceano. me desculpe pelas cidades não visitadas, pelos planos que não se deram, pelos filhos que não vieram. me desculpe pela minha ausência de agressividade, pela minha condescendência, por ter dito "sim" tantas vezes. me desculpe pelo meus olhos que já não conseguem ver teus olhos, pelo meu corpo que já não reconhece seu corpo, pelo minha voz que já não escuta sua voz. me desculpe pelo fracasso, essa palavra tão feia e tão bela, me desculpe por pedir desculpas. 

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